Há 15 anos, nascia um mito. Quem acompanhou o desenvolvimento de Resident Evil 2 desde o início, em meados de 1997, após o estrondoso sucesso do estreante da franquia, o primeiro Resident Evil estrelado por Chris Redfield e Jill Valentine, sabe o quanto foi ‘sofrido’ ficar apenas vendo as poucas fotos que saíam em revistas especializadas da época. As informações eram divulgadas em doses homeopáticas, seja porque a produção do jogo estava vagarosa ou para atiçar ainda mais a curiosidade dos jogadores para a sequência de um título tão aclamado.
As notícias davam conta de um jogo protagonizado por dois novos personagens: o policial Leon S. Kennedy e a universitária Elza Walker. Screenshots e até concept arts do jogo começaram a ser divulgados, além de informações que deixavam a todos ainda mais ansiosos pelo lançamento de um game que prometia revolucionar como nunca antes: a possibilidade de explorar uma cidade inteira, infecção por sangue nas roupas dos personagens, grande interação com o cenário, uma horda infinita de inimigos e um arsenal de armas cheio de opções. A expectativa gerada não poderia ser maior.
Inesperadamente, tudo mudou. A Capcom anunciou que o projeto atual de Resident Evil 2 havia sido descartado depois de 80% concluído, e a produção começaria do zero. Elza foi substituída por Claire Redfield e a delegacia, cenário principal do jogo, ganhou ares de prédio histórico. Nada daquilo que fora anteriormente prometido estava presente, e a maioria se perguntava o que havia ficado para trás na versão cancelada. O diretor, Hideki Kamiya, estreante na época, e toda a equipe de desenvolvimento alegavam firmemente que o projeto descartado não seria uma continuação digna da franquia estreante, além de não ter uma conexão com o antecessor.
Em 2013, o mito começava a ter seu fim decretado. Após anos de especulações, alguns poucos privilegiados começaram a ter acesso a uma versão 40% concluída do protótipo de Resident Evil 2, e os rumores de que alguns poucos fãs tinham o jogo em seus arquivos pessoais começavam a se provar verdadeiros. Um grupo, conhecido na comunidade internacional como IGAS, passou a desenvolver uma versão 100% de Resident Evil 1.5, tentando construir do zero o que estava faltando no jogo, de acordo com as informações que vieram à tona ao longo dos anos. Com mais e mais pessoas começando a ter acesso a uma versão tão desejada por qualquer fã que se preze, já era de se esperar que, mais cedo ou mais tarde, ela viria a público. E assim, em Setembro de 2013, este dia chegou.
Footage especial de Resident Evil 1.5 com a personagem Elza Walker:
Esta versão 40% concluída de Resident Evil 1.5 é conhecida como ‘Vanilla Version’ por não ter sido alterada por fãs, ao contrário de uma versão que começou a circular antes pela internet, de autoria do grupo IGAS. É uma versão pura, original de ‘fábrica’, toda em japonês, e cheia de bugs de programação de um título ainda em desenvolvimento. O “lado Leon” da história é maior e mais explorável do que o de Elza, tendo mais locais acessíveis – e o que não é acessível, pode ser encontrado pelo ‘debug menu’, que servia para auxiliar os programadores na fase de desenvolvimento e programação das salas.
Baseada, portanto, na versão Vanilla, esta análise visa desmistificar o que o protótipo tem que o produto final não tem, se os produtores tinham razão em cancelá-lo, e até onde as informações divulgadas na época eram fiéis ou exageraram a ponto de ajudarem na criação do ‘mito Resident Evil 1.5’. Ainda assim, é importante lembrar que uma versão ‘beta’ de um jogo nem sempre vem à tona, então é realmente interessante ter a oportunidade de jogá-la e mantê-la como um item valioso no acervo de qualquer fã que se preze.
Delegacia com ‘cara’ de delegacia:
O jogo já começa com Leon e Elza dentro do R.P.D., o Departamento de Polícia de Raccoon, cenário principal do jogo. Ao contrário do Resident Evil 2 definitivo, onde se começava no meio da rua tomada por zumbis, e era necessário seguir por alguns becos para chegar à delegacia, nesta versão, o ponto inicial já é no prédio policial da cidade, com Leon no heliporto e Elza no salão principal. Possivelmente, uma cena em CG explicaria como os dois chegaram aos respectivos locais, mas, por se tratar de uma versão incompleta, onde até mesmo as portas de loading são todas iguais, independente de você estar subindo uma escada ou passando por um portão, não há quaisquer animações que auxiliem na explicação da trama.
O R.P.D. definitivamente teria mais cara de delegacia. Com um prédio com ares mais contemporâneos, suas salas contrastam absurdamente com as salas da versão final, onde se explica que o local era, anteriormente, um museu, e que fora comprado e transformado em delegacia, mas com seu ar clássico preservado. É realmente emocionante poder andar por salas antes vistas somente em imagens de revistas e nos poucos vídeos divulgados, sendo uma delas um estande para treinamento de tiro ao alvo. Ainda assim, é nítido que os gráficos são muito inferiores ao do Resident Evil 2 final.
Gráficos inferiores e cenários reaproveitados:
Sim, infelizmente é verdade. Apesar de se tratar de uma versão incompleta, é nítido que os seus gráficos não se comparam com os do produto final, que foi tão elogiado na época de seu lançamento. O diretor tinha razão: Resident Evil 1.5 era muito parecido com o seu antecessor em termos gráficos, e não representava a evolução que eles buscavam para uma sequência. Mesmo a movimentação dos personagens e inimigos é significativamente inferior. Uma imagem bastante veiculada na época de seu anúncio foi a de uma prisão com as mãos dos prisioneiros, transformados em zumbis, para fora das grades, tentando agarrar Leon. Esta cena está presente e decepciona qualquer um que jogou o legítimo Resident Evil 2, mostrando movimentos duros e repetitivos.
É importante salientar, porém, que justamente pela versão analisada estar apenas 40% completa, muitas texturas ainda não estavam prontas e provavelmente muito ainda seria alterado e refinado até o seu lançamento. Diversos cenários, inclusive, são reconhecíveis em comparação com a versão final, mas foram bastante aprimorados e não parecem tanto com os backgrounds do primeiro jogo. A impressão que se tem é que, depois de descartado o conceito inicial, tudo ficou mais grandioso, desde a delegacia como também o laboratório da Umbrella, que ganhou maiores dimensões no Resident Evil 2 que os fãs conhecem.
Sangue na roupa e… contaminação?
Em partes, é verdade. Quando um zumbi te agarra ou você sofre um ataque de qualquer inimigo, é possível ver depois algumas manchas de sangue na roupa do personagem. Isto realmente se confirmou. Contudo, é possível que o conceito que dizia que você precisaria trocar de roupa diversas vezes no jogo seja um erro de interpretação da época, pois em momento algum do jogo há roupas disponíveis para troca. Deve-se levar mais uma vez em conta de que se trata de um jogo somente 40% desenvolvido, mas é improvável que uma ideia destas não estivesse sendo incluída deste o início da produção no jogo.
Personagens modificados ou não aproveitados na versão final:
Não foi apenas Elza Walker que ficou de fora do Resident Evil 2 definitivo, ao ser substituída por Claire Redfield. Outros personagens presentes em Resident Evil 1.5 foram modificados ou tiveram sua participação bastante reduzida no produto final.
A espiã Ada Wong, tão querida pelos fãs da franquia, não seria como é hoje. Em seu lugar, haveria uma pesquisadora chamada Linda, presente somente na trama de Leon. Sua história provavelmente teria algumas semelhanças com a de Ada, como o fato de ser alguém infiltrada na Umbrella para adquirir o G-Virus, pois é algo típico da série. Porém, a Ada Wong espiã, que se envolvera com um pesquisador da Umbrella somente para obter informações sobre a companhia e suas pesquisas, e se infiltrara em Raccoon durante a epidemia para obter o G-Virus de William Birkin, não existiria.
Um personagem que teria mais destaque durante o jogo seria o dono da loja de armas, Robert Kendo. Não se sabe se ele seria exatamente o Kendo – ele poderia ter um nome diferente – mas há um personagem bastante parecido com ele na trama de Elza. Ele não apenas sobreviveria no final – pelo menos, está entre os personagens presentes no cenário final, o trem, assim como na versão lançada – como apareceria diversas vezes ao longo do jogo. Depois que o projeto foi reiniciado, Kendo passou a ter um papel bem menor, morrendo poucos instantes depois de sua introdução. Note que os rostos de Linda e do suposto Kendo ainda estão faltando em suas texturas.
Há ainda um personagem misterioso neste protótipo: ele ainda estaria com a ‘skin’ de Leon, e apareceria diversas vezes em especial na trama de Leon. Infelizmente, como o jogo é todo em japonês e as falas estão ausentes nos diálogos, sua trama permanece desconhecida e a identidade do personagem continua sem confirmação. Houve rumores de um personagem descartado do jogo final, um policial sobrevivente chamado Roy, mas não há como saber se seria mesmo ele. Poderia se tratar também do chefe de polícia Brian Irons ou do policial Marvin, que também estariam presentes na história, mas, ao menos na ‘Vanilla Version’, não há qualquer menção ou aparição deles. Alguns vídeos lançados na época mostravam Marvin como um personagem bastante participativo na trama de Leon.
A família Birkin, de grande importância para a trama de Resident Evil 2, também estaria presente e seria igualmente vital para o desenrolar dos acontecimentos no jogo. O pesquisador e criador do G-Virus, William Birkin, transformado em uma horrenda criatura G, grita pelo nome de sua filha quando aparece pela primeira vez. Annette, esposa de William e mãe de Sherry, não foi vista nesta versão do protótipo.
Seria interessante ver análises desse tipo sobre as outras betas de Resident Evil, como o de gameboy e o tão comentado 3.5
Seria interessante se lançassem o Resident Evil 1.5 na geração atual ou na próxima como um jogo spin-off/não-canônico, mas acredito que as chances disso acontecer são quase nulas (para não dizer nulas). Apesar da Elza ser uma personagem interessante, eu prefiro a Claire, seria horrível se a irmã do Chris nunca tivesse existido, ela que é uma das melhores personagens da franquia.
Isso sim seria uma reimaginação de respeito, não aquilo que fizeram com RE3 remake que depois resolveram chamar de reimaginação porque muita gente não gostou das mudanças (eu inclusive)
Bom, eu ainda não joguei o Resident Evil 3 Remake e por isso não posso dar meu veredito, mas pelo que venho lendo web afora, ele poderia ter sido melhor.
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