Quando a Capcom anunciou Resident Evil Revelations 2 e as primeiras informações começaram a sair, eu confesso que não tinha grandes expectativas em cima do jogo, já que a franquia não andava em sua melhor fase desde os seus últimos lançamentos. Não sei se foi pelo “hype” contido, mas definitivamente o título me surpreendeu do começo ao fim. Lançado em formato episódico, os teasers para os próximos acontecimentos sempre deixavam o jogo com aquele gancho cheio de mistérios, o que foi muito benéfico, já que há tempos não se discutia tanto um Resident Evil como agora. Diferentemente de outros jogos episódicos, os lançamentos de Resident Evil Revelations 2 foram semanais e, portanto, a expectativa para o próximo episódio tinha os dias contados. Um ponto extra para o jogo.
Mas não foi só nisso que a Capcom acertou em cheio. A escolha do roteirista Dai Sato foi uma das melhores coisas que aconteceram para a franquia nos últimos anos, desde a saída de Shinji Mikami da produção/direção/condução da série. Apesar de certos receios que Sato ainda demonstra ter em relação a um título tão renomado, especialmente no Japão, onde o nome Biohazard (é assim que Resident Evil se chama por lá) é tão presente, ele fez um excelente trabalho no primeiro Revelations, repetindo a dose neste segundo. Não se sabe ao certo se o medo de arriscar é de Sato ou se é da própria Capcom, mas, apesar da carga de dramaticidade da trama, faltou “aquela” catarse, aquele ápice, aquele momento que causa tanto revolta quanto surpresa nos fãs, aquele “golpe” certeiro nos que acompanham a série há tantos anos. Quem jogou, sabe do que estou falando.
Novelesco ao extremo, Revelations 2 soa até um pouco infantil em alguns momentos, justamente por conta da falta de coragem da produtora ou de seu roteirista (o que eu duvido) em riscar personagens de sua lista, ter coragem de dar um fim a eles e, assim, surpreender e acender ainda mais a discussão que se criou em torno do jogo. Mas, como eu disse acima, apesar disto, Dai Sato é excelente, sua trama é consistente, seu conhecimento prévio sobre a série foi surpreendente e ele conseguiu amarrar bem a história criada. Com certeza, mereceria continuar como o roteirista não somente dos próximos Revelations, mas da franquia toda. Quem sabe, para os próximos títulos, a coragem de arriscar não venha?
O aspecto gráfico não foi dos melhores da franquia, até mesmo por se tratar de um título cross-gen, ou seja, lançado para duas gerações de consoles, a anterior e a atual, o que limita a criação de gráficos mais potentes. Bom, eu nunca liguei para gráficos, mas sei que muita gente liga e é por isto que é algo que não deve ser deixado de lado ao falar sobre determinado jogo. Utilizando a mesma engine dos jogos anteriores, os modelos dos personagens ficaram bem bonitos, mesmo que muitas pessoas tenham criticado o rosto de Claire Redfield nas cutscenes, o que também aconteceu no primeiro Revelations, com a mudança da modelo de rosto de Jill Valentine.
Esta é uma teoria minha, mas talvez a Capcom esteja optando por criar personagens mais próximas da realidade, menos deusas e mais guerreiras, menos estereotipadas e mais “gente como a gente”, o que eu também acho positivo. Tudo bem que as roupas extras mostram a “exuberância” (para não dizer a “gostosura”) de Claire e Moira, até porque apelo sexual vende, mas só de a campanha principal, aquela que você joga pela primeira vez e à qual muita gente se limita, ser focada em personagens mais realistas, já valeu a pena.
É com muita satisfação que afirmo que a franquia voltou ao Survival Horror com Resident Evil Revelations 2, porque sobram elementos do gênero no jogo. Não falo apenas do clima claustrofóbico do centro de detenção onde Claire e Moira despertam, mas toda a opressão criada pelo plano da “Supervisora”, como se auto intitula a vilã da trama, observando cada passo dos membros da organização não-governamental Terra Save selecionados para seu experimento.
O gore, aquela violência gráfica que beira a nojeira, está presente desde o primeiro episódio, mas tem o seu ápice no terceiro, quando as protagonistas chegam a um matadouro e se enfiam em verdadeiras piscinas de sangue misturado com gordura animal. As reações de Moira, com seus palavrões e suas reclamações a respeito da situação em que estão sendo submetidas, ajuda a criar a ambientação perfeita, dando até para sentir nojo pelas personagens quando precisam passar por um local usado para a matança e a sangria de animais.
A trilha sonora, combinada com o clima opressor criado pelos cenários, são um ponto extra. Os compositores Kota Suzuki e Nima Fakhrara, em um vídeo promocional do jogo, mostraram os novos instrumentos criados para as músicas de plano de fundo de Revelations 2. Os sons rudimentares se mesclaram perfeitamente com os temas orquestrados, alguns até mantidos do primeiro Revelations, como o tema dos trailers com cenas do próximo episódio, o que dá mais identidade a esta subsérie. Se tem uma coisa na qual Resident Evil nunca pecou, felizmente, foi com trilhas sonoras, sempre memoráveis, desde o seu primeiro jogo.
Aliás, já que Revelations 2 se aproveita de ganchos da trama para manter a atenção dos jogadores, como não mencionar o excelente “fanservice” prestado por este título, ao trazer Barry Burton, personagem do primeiro jogo, de volta, e com suas falas tão características, repetidas incessantemente e em coro pelos fãs, que tanto pediam por sua volta? Não bastasse isto, a Capcom ainda parece querer nos levar as lágrimas de nostalgia ao escolher o dublador perfeito para Barry, extremamente fiel ao original, com a mesma entonação tão conhecida em frases como “What?” e “Watch out!”. Só tenho a agradecer por esta ótima surpresa com Barry e sua incrível personalidade presentes neste jogo.
A adição das personagens inéditas, Moira Burton e Natalia Korda, foi bem acertada, até porque, convenhamos, a produtora também sabe criar personagens cativantes. Sem falar que não é à toa que Resident Evil está beirando os 19 anos de existência e é a franquia mais rentável da Capcom: começando com os membros do esquadrão S.T.A.R.S. e passando por sobreviventes como Leon Kennedy, Claire Redfield e Ada Wong, a empresa sempre soube prender os fãs que buscam saber o paradeiro de seus personagens favoritos. É claro que muitos ainda estão no limbo dos esquecidos, mas, já que a esperança é a última que morre e eles adoram agradar os fãs, é só pedir que logo mais aparecem mais personagens das antigas em futuros títulos da série.
Moira Burton não é tão inédita assim, porque é mencionada em uma fotografia de Barry, no primeiro jogo, quando ainda era uma criança. Hoje, com seus vinte e poucos anos e muita rebeldia e boca suja, Moira cumpriu o seu objetivo em cativar os fãs. O mesmo vale para Natalia Korda, a garotinha que acompanha Barry por todo o caminho, auxiliando com sua capacidade única de pressentir os inimigos pelo caminho. Espero sinceramente que “Natalinda”, como eu a apelidei carinhosamente, não deixe a franquia e volte a aparecer em outros jogos. É claro que ela precisará de alguns anos aí para crescer, mas acho que podemos esperar grandes coisas desta graciosidade (e, agora, cheia de maldade interior) de menina.
Para não me alongar mais neste artigo, respondo brevemente à pergunta que vocês devem estar se fazendo: “mas, afinal, o jogo vale a pena?”. Sim, vale cada centavo. Além de ser vendido a um valor bastante justo e acessível, Resident Evil Revelations 2 desperta nos jogadores, os mais fãs e até os que acompanham a série casualmente, aquele sentimento de que ainda há esperança para uma franquia que já passou do topo para o fundo do poço nestes quase vinte anos de existência. E já que o objetivo do título episódico é despertar o debate, deixo agora para vocês, leitores, o veredito final sobre a trama.
Um bom jogo!!!! Recomendo!!!! valeu
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