Análise | Resident Evil 7

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Resident Evil 7

Você, caro fã veterano de Resident Evil que está lendo esta análise, já deve estar se corroendo de curiosidade em saber se este sétimo jogo numerado da série cumpre o que os seus produtores prometem há meses: um retorno digno às suas raízes do terror e da sobrevivência. Com um novo estilo de câmera inédito na série principal numerada (os títulos Survivor são spin-offs) e uma trama que dá início a um novo arco de acontecimentos na cronologia canônica, Resident Evil 7 chega aos consoles da atual geração e para o PC, trazendo ainda o suporte ao Playstation VR, como forma de aumentar o nível de imersão e te fazer sentir não apenas dentro do jogo, mas parte daquela história.

Depois de cinco anos do último lançamento da série principal, Resident Evil 6, que tentou agradar a todos os tipos de fãs da franquia, mas acabou por não ter uma identidade, acredita-se que o maior medo dos fãs seja justamente disto se repetir com o novo jogo. Felizmente, Resident Evil 7 não só tem uma cara própria, como ainda te desperta os sentimentos de quando se jogou o primeiro game há vinte anos. A trama traz personagens novos em um local nunca antes citado no cânone da série, com inimigos novos e, como um bom Resident Evil que se preze, uma nova ameaça biológica. É quase um recomeço para a série, já que o título antecessor não havia sido bem recebido pelos fãs, por inúmeras razões que já foram repetidas a exaustão nestes anos todos.

A perspectiva em primeira pessoa foi algo que causou polêmica entre os fãs desde o primeiro trailer mostrado na E3, em Junho do ano passado. Resident Evil só havia tido títulos com visão em primeira pessoa nas subséries Survivor e Chronicles, mas o nível de “fusão” jogador com personagem dentro do jogo vinha aumentando gradualmente, e teve início quando Resident Evil 4 estreou a perspectiva de câmera sobre os ombros. Para se beneficiar das vantagens que o óculos VR tem a oferecer, a visão em primeira pessoa foi, de fato, a melhor opção para aumentar esta imersão. Há cenas no jogo que nitidamente devem ser (porque não jogamos em VR) um espetáculo aos que tem a tecnologia a disposição.

Resident Evil 7
O protagonista Ethan Winters é “gente como a gente” e não manja de combate.

Mas, mesmo para quem não tem um VR, por se tratar de um dispositivo ainda bem caro, portanto, de pouco acesso ao público geral, a imersão acaba ocorrendo pelo envolvimento com a trama do jogo. Entramos na pele de Ethan Winters, um civil “gente como a gente”, sem qualquer habilidade de combate e poucas habilidades com uma arma (quando se diz “pouca habilidade” é diferente de dizer “nenhuma”) e viúvo há três anos, quando sua esposa, Mia, foi dada como desaparecida após uma viagem, em 2014.

Após receber um e-mail de Mia, dizendo que está viva e pede para ir buscá-la em Dulvey, uma cidadezinha no meio de Louisiana. O que Ethan não sabe é que será envolvido em uma história que jamais qualquer mortal poderia imaginar se tornar real diante de seus olhos, quando os donos da propriedade, a família Baker, o encontram e tentam a qualquer custo torná-lo mais um membro de sua estranha e degenerada família.

Resident Evil 7
A violência da Família Baker é apenas a ponta do iceberg em Resident Evil 7.

Os gráficos de Resident Evil 7 são bonitos para a atual geração, mas não são nada absurdos ou dignos de serem um destaque. A tecnologia usada para capturar imagens de objetos e movimentos de personagens foi a fotogrametria digital, que é nítida em diversos momentos do jogo, especialmente ao observarmos fotos em porta-retratos encontrados durante o jogo, onde vemos que os personagens da família Baker ficaram tão reais quanto os atores que os encarnaram.

Ainda assim, há alguns problemas gráficos com os cenários, mas são problemas que qualquer outro jogo tem, como o carregamento de texturas, por ser em tempo real, demorar até ficar nítido, ou objetos que atravessam paredes ou outros objetos. Por conta dos cenários serem cheios de detalhezinhos e longos, e nenhum loading entre uma sala e outra, o “loading” do jogo também pode parecer um pouco longo, mas nada que comprometa a experiência.

Resident Evil 7
Reacostume-se com a volta das ambientações escuras e opressoras durante todo o jogo.

A trilha sonora de Resident Evil 7 não deixa nada a desejar para trilhas de jogos passados. Um destaque fica por conta da música das salas de salvamento, que de imediato te fazem lembrar de como era bom poder se refugiar ali, sabendo que nenhum inimigo entraria e acabaria com sua paz. É bom ter as “save rooms” de volta, e com uma musiquinha acolhedora e calma, algo que não tínhamos na série desde Resident Evil 5, quando foram implementados os “checkpoints” automáticos.

Estes ainda existem em Resident Evil 7, mas apenas em momentos como você morrer para um inimigo, e em vez de voltar do último ponto salvo, ele só te facilita a vida e te transporta para uma posição um pouco mais perto. Isto, porém, é artifício somente do nível Normal de dificuldade, e se você não salvar o jogo antes de desligar o videogame, caso precise, tudo o que fizer terá ido para o ralo, então, lembre-se sempre de salvar o jogo, a cada novo progresso que fizer, pelo menos na primeira jogada!

Resident Evil 7
Explorar uma mansão cheia de puzzles é como revisitar o passado da série.

Ainda sobre a música, ela combina perfeitamente com a ambientação do jogo, com os cenários lotados de elementos rústicos e até ultrapassados, apesar de o jogo se passar no ano de 2017 e o avanço da tecnologia. Mas, acredite, tudo isto tem uma razão, e também servem para despertar a nostalgia de fãs mais antigos, que cresceram junto com Resident Evil nestes seus vinte anos de existência. As fitas VHS encontradas pelo jogo também têm o seu propósito de mostrar o background dos acontecimentos atuais, mas estarem ali, quando nem DVDs são mais usados, também farão todo o sentido, desde que (e isto é muito importante!) você adentre naquela atmosfera e se sinta parte dela.

E, finalmente, respondendo a pergunta que não quer calar, Resident Evil 7 traz o Survival Horror de volta à franquia, que popularizou e firmou este gênero, mas também inevitavelmente o abandonou, na tentativa de seguir tendências da indústria? E a resposta é um grande SIM em letras garrafais! É com uma grande alegria que é possível escrever aqui que você terá que solucionar puzzles e “ir e voltar” em busca de itens! É claro que não se pode esperar que seja EXATAMENTE como nos jogos passados, que eram menos lineares, mas depois de tantos anos com a série focada na ação, já é um bom recomeço. As vendas da remasterização em HD do Remake mostraram que o gênero tem força, a Resident Evil 7 pode ser uma reabertura para isto no mercado, já que foi Resident Evil quem começou tudo isso.

Resident Evil 7
Acredite: os elementos rústicos e ultrapassados se justificam em Resident Evil 7.

Há muito tempo não ficávamos “travados” em Resident Evil, rodando os cenários atrás de itens ou do que fazer para prosseguir na história, e tudo isto está de volta neste sétimo título. Os recursos escassos também são um destaque, mas se você já é “macaco velho” na série, este não será um grande problema durante a maior parte do gameplay, mesmo na primeira jogada, e logo se pega o jeito de driblar os inimigos para poupar munição e até guardar o excesso nos baús, que também estão de volta, não apenas para guardar armas (como no primeiro Revelations), mas para guardar todos os tipos de itens. Já adiantamos que o inventário é bastante limitado, mesmo com possibilidade de expansão ao longo do jogo, então se prepare para voltar ao baú com bastante frequência.

Para finalizar, a trama de Resident Evil 7 é extremamente envolvente, e cheia de reviravoltas, que te farão esquecer em poucos minutos que o jogo está em primeira pessoa ou que o protagonista não é nenhum dos velhos conhecidos da série. Os produtores pediram aos fãs para que confiassem no trabalho deles, e fica aqui não apenas um agradecimento a eles, mas também um conselho aos fãs: desta vez, eles são dignos da confiança, e você ficará bastante surpreso com o que a história tem a te oferecer, porque os mistérios e a violência da família Baker são apenas uma parcela do que Resident Evil 7 traz para enriquecer a franquia. Se você, fã da série, queria um presente digno para estes 20 anos de Resident Evil, este sétimo título é o presente ideal.

(A versão testada para esta análise foi a de Playstation 4, sem o VR, com cópia cedida gentilmente pela CAPCOM.)

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