Análise | Layers of Fear

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Layers of Fear

Assim como na criação de um quadro, as pessoas também são feitas de camadas, que constituem a sua vida e moldam os traços de sua personalidade, e as camadas do passado inevitavelmente afetarão de forma direta nas camadas do presente. Layers of Fear é um jogo de terror psicológico indie, a princípio lançado em Early Access para PC e que finalmente, em 16 de Fevereiro de 2015, teve sua versão final disponibilizada também para os consoles Playstation 4 e Xbox One.

Desenvolvido pela Bloober Team, o game foi criado na engine Unity e teve um trato definitivamente refinado: além da estética a ser destacada, há ainda localização do jogo para o nosso idioma, com menus, legendas e todos os arquivos do jogo em português, o que facilita para a compreensão de sua trama.

Neste jogo em primeira pessoa, você entra na pele de um pintor no século 19, cujo objetivo é o de finalizar um quadro, a grande obra de sua vida. O único problema é que o seu passado o persegue incessantemente: some um casamento em ruínas com o egocentrismo do cara em só se importar com o trabalho, seu vício em álcool e outros problemas que você vai descobrindo ao longo do jogo, conforme lê as cartas e documentos encontrados pelo caminho. A trama traz temas bem pesados, como o próprio alcoolismo, tortura e sadismo, mas algumas coisas colocadas de uma maneira um pouco mais implícita, como forma de se fazer o jogador criar interpretações próprias em alguns momentos.

O jogo é belíssimo esteticamente, não apenas pelos gráficos, mas também pelas ambientações, mesmo nos momentos mais caóticos. A riqueza de detalhes impressiona e deixa muitas desenvolvedoras grandes no chinelo. Até mesmo os documentos possuem marcas do tempo, anotações do protagonista e caligrafias diferentes. Por algumas vezes, é possível experimentar viradas de câmera um pouco mais lentas, pela quantidade de elementos na tela, mas nada que atrapalhe no jogo.

Layers of Fear

Um ponto “negativo” (mas que pode ser visto como positivo para a maioria dos jogadores) é o do jogo ser muito, muito escuro em diversos momentos, deixando o jogador até desconfortável. Ok, a experiência se intensifica, o que geralmente é proposital, mas chega a incomodar quem tem uma visão mais sensível a ambientes muito escuros, o que pode causar ardência nos olhos e dores de cabeça por ter de forçar a visão. Existe uma diferença entre um jogo ser sombrio e ser escuro a ponto de tornar a experiência desagradável, até porque, antes de qualquer coisa, independentemente da temática de um game, o objetivo deve ser o entretenimento.

A parte sonora do jogo também não decepciona, a começar pelas belíssimas canções em piano em alguns momentos da trama. A dublagem traz o talentoso Erik Braa na voz do protagonista, nos flashbacks que constituem grande parte do game. A sonoplastia é excelente, os sons e até a ausência dele são colocados de forma apropriada a criar o ambiente perfeito para a expectativa de sustos a cada porta aberta. Na versão testada, para Playstation 4, os sussurros vindos dos auto-falantes do controle também contribuem para o clima de suspense, e servem como um indicador de sua proximidade nos objetivos para prosseguir no jogo.

Layers of Fear

A jogabilidade é um tanto controversa, mas com uma proposta bastante interessante: temos um jogo de terror cujo inimigo é, na verdade, o próprio protagonista e sua mente perturbada, o que significa que não há monstros além dos que ele próprio criou. E, não havendo monstros pelo caminho, não há mortes, o que torna a experiência apenas uma trajetória linear em busca do desfecho e de conhecer a história por trás do jogo. Alguns poucos momentos fazem com que você precise repetir ações, mas não por morrer, e sim por não cumprir requisitos.

Muitos jogos, especialmente os indies, seguem esta tendência, o que não é de todo ruim, até porque muitas pessoas buscam a experiência de uma trama envolvente, e mortes recorrentes em chefes ou inimigos persistentes podem, muitas vezes, acabar com esta expectativa. Com Layers of Fear, você é transportado de uma maneira tão forte para dentro da história que, de fato, seguir este estilo de jogo foi a melhor escolha mesmo, salvo alguns momentos um pouco monótonos e irritantes próximos ao final, que deixam o jogo cansativo e você só quer terminar logo e ver o “gran finale”, que, por sinal, é bastante intrigante.

Layers of Fear

No geral, Layers of Fear é uma experiência bastante satisfatória para quem gosta de uma trama envolvente, com uma construção progressiva da personalidade de seus personagens com a descoberta de elementos de seu passado, alguns sustos, mas muita especulação em torno da concepção de um quadro… Para quem esperava por elementos sobrenaturais, a interpretação é livre. Mas para quem esperava por mais sustos do que no famigerado e lendário P.T., por favor, não crie esperanças, porque passa longe, bem longe… Não há nada novo, nada que muitos jogos já não tenham feito. Bonecas se mexendo sozinhas? Uma vitrola tocando música ao contrário? Para quem cresceu ouvindo a lenda de que as músicas da Xuxa tocadas ao contrário invocam forças demoníacas, tudo isto aí é fichinha.

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