The True Story Behind Biohazard é um livro lançado no Japão em 1997. Ele fazia parte de uma ação promocional de pre-order do port de Sega Saturn do primeiro Resident Evil.
→ O Diário de George Trevor
→ Palavras do Produtor de Biohazard, Shinji Mikami
Apesar de ser um conteúdo interessante, o conto “BIOHAZARD – O Início” (Biohazard – The Beginning) não é um conteúdo canônico, ou seja, ele não faz parte da trama de Resident Evil. Portanto, trata-se apenas de uma história promocional que, na época, funcionaria como uma “prequel” do primeiro game da franquia, de 1996.
BIOHAZARD – O Início
Por Hiroyuki Ariga
Capítulo 1: O Mal Residente (Resident Evil)
Toda vez que o telefone toca no meio da noite, eu sei que alguém que não estava morto no dia anterior está morto agora. Acontece o tempo todo. Exceto quando é o número errado. Como a mulher totalmente embriagada que pensou que eu era seu amor perdido. Ou o idiota que se pendurou na minha linha com um longo monólogo em português.
Eu senti este medo no meio da noite faz cinco anos, desde que um oficial da polícia estadual me ligou às duas horas da manhã, para me dizer que meus pais estavam mortos. A van de férias deles colidira com um caminhão fora de controle. O perito teve que identificá-los pelas arcadas dentárias, eles ficaram em péssimo estado.
Mesmo eu tendo sido escolhido para os S.T.A.R.S., a Equipe de Táticas Especiais e Resgate, uma força tarefa do Departamento de Polícia de Raccoon formada para lidar com crimes violentos e resgate de vítimas, eu ainda fico assustado quando o telefone toca nas últimas horas antes do amanhecer. Muitos criminosos agem no meio da noite. A maioria das pessoas está dormindo, então geralmente não há testemunhas por perto. Um crime violento pode não ser notado durante horas. O que significa que, quando eu chego no local, a vítima geralmente já está dura como uma tábua.
Sim, quando o telefone toca na calada da noite, aposto que algo ruim está acontecendo.
Como a meia hora atrás. Eu estava tendo o meu sonho favorito, aquele onde sou uma estrela do rock cercado de fãs, quando recebo o telefonema de Billy, meu melhor amigo da escola. Normalmente, eu gosto de falar com velhos amigos, mesmo no meio da noite. Mas não foi um telefonema normal, a menos que tenham começado a instalar telefones dentro de caixões. O Billy, sabe, está morto faz três meses.
Meu velho amigo fora um promissor pesquisador de uma grande empresa local chamada Companhia Umbrella. Então, há aproximadamente três meses atrás, ele foi repentinamente transferido para Chicago, para trabalhar em algum projeto confidencial de pesquisa. Ele partiu de Raccoon em um jato fretado da Companhia no que parecia um vôo de rotina. Acabou sendo qualquer coisa, menos rotina. Uma hora após a decolagem, o controle no solo perdeu o radar e o contato de voz com o avião.
No dia seguinte ao desaparecimento do jato, um barco de pesca encontrou vários pedaços dos destroços do avião e os corpos de oito passageiros flutuando nos Grandes Lagos. Billy e mais doze passageiros nunca foram encontrados, e as buscas finalmente concluíram que seus corpos haviam afundado misteriosamente nas profundezas gélidas. Caso encerrado, exceto pela cerimônia em homenagem a Billy e algumas memórias de um grande amigo que eu não veria novamente.
Ou nunca mais ouviria de novo. Esta ligação só podia ser algum tipo de piada de mau gosto. “Seja quem for, você tem um senso de humor doentio”, eu disse, desejando que eu pudesse colocar minhas mãos no pentelho do outro lado da linha.
“Chris, eu juro que sou eu. Billy.”
Desta vez eu ouvi mais de perto a voz de quem ligava, reparando em seu tom e em seu modo de falar. Com certeza parecia o Billy. Mas eu queria ouvi-lo falar mais algumas frases antes de me convencer. “Se é o Billy, me diga como você sobreviveu à queda do avião.”
“Eu não estava no avião quando ele caiu, Chris. Vinte minutos depois do jato da Companhia decolar, ele pousou em uma área particular no estado vizinho. Eu saí do avião e segui de volta para Raccoon City.”
Eu não tinha mais dúvidas. A voz pertencia ao meu velho amigo. “O que está havendo, Billy? Por que a Companhia Umbrella teria todo o trabalho de fazer você voar para algum lugar, para depois trazê-lo de volta? E por que a Companhia não contou à sua família e aos seus amigos que você ainda estava vivo? Eu não estou entendendo nada.”
“Era necessário que eu desaparecesse,” disse Billy.
Eu me sentei na cama e olhei para o relógio aceso no meu móvel de cabeceira. Era uma hora da manhã. Eu havia dormido apenas durante umas duas horas. Não havia dúvidas de que eu estava cansado. E as bebidas que tomei à noite não estavam me ajudando a ficar mais esperto.
“Eu presumo que você e a Companhia Umbrella tenham uma boa razão para ter mantido você nas sombras.”
“Não uma ‘boa’ razão. Uma má. Eu fiz parte de um terrível engano.”
Eu tomei um longo gole de água da garrafa que deixo do lado da cama. “Que tipo de engano?”
“Eu gostaria de poder te contar tudo, Chris, mas não posso revelar detalhes pelo telefone, entende?”
“Eu entendo tudo muito bem. Eu entendo que meu melhor amigo está esquisito comigo.”
“Chris, eu sei de um segredo, o segredo mais terrível que você possa imaginar.”
“Que segredo? Do que você está falando?”
“O segredo por trás da cadeia de crimes que você está tentando solucionar.”
“Não brinque comigo, Billy. Eu quero saber o que você sabe.”
“Já te disse, não pelo telefone. A linha pode estar grampeada.”
“É improvável.”
“Eu não vou arriscar,” ele se alterou, sua voz mais alta e nervosa.
“Então o que você quer fazer?”
“Eu quero encontrá-lo. Só você e eu.”
“Está bem. Onde e quando?”
“No parque perto do Lago Vitória, você sabe, ao norte da cidade. Vá para lá o mais rápido que puder.”
“Por que a pressa?”
“Tem gente querendo me matar, Chris.”
Isso fez aumentar o grau de urgência. “Certo, amigo, eu estarei lá em trinta e cinco, quarenta minutos.”
Eu vesti as mesmas roupas que havia tirado duas horas antes, peguei outra garrafa fria da geladeira e virei metade da água em um grande gole. A outra metade eu despejei na minha cabeça no caminho até o meu carro. Se eu tinha que pegar estrada no meio da noite, imaginei que seria melhor estar molhado e acordado do que seco e morto.
Meu Shelby Cobra deu a partida e eu segui até o Lago Vitória, confiante de que conseguiria chegar lá em menos de 40 minutos. Droga, em um Shelby você dá meia volta na lua em 40 minutos. Fiz uma curva em S no dobro da velocidade permitida, então diminuí no pedal e pensei em Billy.
Ele e eu fomos praticamente inseparáveis durante o colegial, inclusive éramos considerados a “dupla esquisita” de nossa sala. Billy era um estudante que só tirava nota “A” e nunca se metia em problemas, enquanto eu passava raspando nas notas e passava metade do tempo na sala do diretor.
Depois que nos formamos, Billy entrou para o M.I.T., o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Sabendo que eu não estava preparado para a universidade ainda, me alistei na Força Aérea. Não nos vimos muito nos quatro anos que se seguiram, apesar de receber uma carta dele a cada seis meses, mais ou menos. Tenho vergonha de dizer que nunca as respondi.
Um mês depois de ter terminado a faculdade, Billy foi trabalhar na Companhia Umbrella em Raccoon City. Há mais ou menos um ano atrás, eu voltei para casa para ingressar na equipe dos S.T.A.R.S.. Billy e eu logo retomamos nossa amizade, e nos víamos freqüentemente antes de ele anunciar que seria transferido para Chicago.
Agora que me lembrava disso, parecia estranho ele nunca ter escrito para mim pelo menos uma vez naquele último ano. Na época, eu apenas imaginei que ele estivesse ocupado. Mas agora eu sabia que havia outra razão e, a julgar pela voz assustada de Billy, uma razão muito mais sinistra, para eu não ter ouvido notícias de meu velho amigo. Seja qual fosse esta razão, eu não fazia idéia do que era.
Eu cruzei a região deserta do centro de Raccoon e entrei em uma rodovia de pista dupla seguindo para o norte, ríspido como uma flecha. Não havia mais nada na estrada a esta hora, nem mesmo tratores de fazendas, e eu pisei mais fundo no acelerador. O motor do Shelby respondeu com um ronquido e eu senti meus ombros se afundando no assento enquanto o marcador de velocidade subia para 110km/h.
Cinco minutos depois eu vi as primeiras montanhas adiante e eu diminuí a pressão no acelerador. Eu sempre tive receio de dirigir nas montanhas, então alterei a marcha para terceira, depois para segunda, e então o Shelby sacudiu na volta em primeira marcha. A estrada ficava mais alta conforme subia a montanha, e as curvas se transformavam em uma série de voltas estreitas em U. Meus braços estavam começando a doer de virar o volante para um lado e para o outro.
Então, quando eu começava a acelerar em uma curva repentina, uma mulher apareceu de repente em minha visão. Eu estava a setenta e cinco e ela estava perto demais de virar um enfeite de parede. Eu diminuí a velocidade e pisei nos freios, mas podia ver que ainda ia acertá-la. Então fiz a única coisa que podia. Virei o volante com força e joguei o Shelby na direção da guia, na margem da estrada.
O motor parou quando eu bati, e por alguns segundos fiquei ali parado em um silêncio repentino tentando sentir ossos quebrados e ferimentos. Felizmente, não havia nada, e eu voltei minha atenção para a garota. Ela aparentemente havia caído durante o contato, e estava no chão a uns quinze metros do carro. Eu saí e corri na direção dela. Enquanto me aproximava, notei com terror que seu corpo inteiro estava coberto de feridas abertas.
Eu cheguei bem perto de vomitar naquele momento. Havia ossos saindo de sua pele e pequenos buracos de sangue onde artérias haviam sido rasgadas. Eu controlei minha náusea e me ajoelhei ao seu lado. Ela levantou a mão sem força e tocou a minha.
“Santo Deus, moça, o que aconteceu com você?”
“Ele…” seus lábios formaram a palavra, mas não saiu som algum.
Sua garganta estava cortada.
Eu me forcei a olhar para o resto de seu corpo dilacerado, e me assustei com a visão de seu baixo abdome. Uma grande parte de seu estômago havia sido retirada – como se um tubarão branco a tivesse cortado no meio – e seus órgãos internos haviam caído na estrada.
Minhas mãos e braços estavam cobertos com sangue grudento agora e eu mal podia respirar, o ar estava muito pesado com o fedor dos intestinos. Então, quando pensei que o pesadelo não podia ficar pior, um grito assustado quebrou a noite. Eu me virei na direção do choro e vi um conversível de modelo antigo com a capota abaixada a uns cinqüenta metros à frente na estrada.
Iluminado pela lua, eu vi uma espécie de animal pular dentro do carro aberto. A princípio, pensei que fosse um grande cachorro Terra Nova. Então, percebi que esta coisa era pelo menos duas vezes maior do que um Terra Nova. O motorista começara a gritar de novo, e eu podia ver seus braços sacudindo enquanto testava afastar a besta. Então, de repente, ele ficou quieto.
Eu fui buscar minha Beretta automática no Cobra e corri em direção ao conversível. Parei a dez metros de distância e mirei minha pistola para o céu. Ao som do disparo, a besta se virou e me encarou com um olhar terrível. Ela tinha olhos vermelhos demoníacos, como se as pupilas fossem sangue coagulado, e presas amareladas que pareciam tão afiadas quanto as de um tigre-dente-de-sabre.
Um rugir estranho e gutural saiu da boca do animal. “Kuooon,” gritou ele, arrepiando os cabelos na minha nuca. Fique calmo, me fiz lembrar disto. Você tem uma arma, e ele não. A verdade é que ele nem sabe o que é uma arma. De fato, você, Chris Redfield, está no comando total.
A besta saltou do carro e deu um passo súbito em minha direção. Ou não.
Num piscar de olhos, a bizarra criatura estava dois passos mais perto. Eu podia agora sentir seu cheiro, e o odor era de podridão. Como se estivesse em decomposição. Como o cheiro de morte. Hora de ficar sério. Eu ergui minha pistola com as duas mãos, inspirei o ar e atirei na cabeça da criatura.
Nada. Nada de sangue espirrando, nem de pedaços de pele e ossos. Fora a mesma coisa de jogar pipoca na criatura. Eu sabia que não tinha errado. Mas não havia buracos de bala. Oras, a besta nem ficara atordoada. Que tipo de obra do diabo era aquela?
Eu esvaziei minha pistola no animal, e estava prestes a correr para o meu carro, quando ele subitamente parecera ter perdido o interesse em mim. A besta deu um último urro, então se virou e desapareceu no meio da floresta escura. Por um bom tempo, eu fiquei parado lá tremendo, o suor encharcando minha camiseta. Com isso, respirei com calma, recarreguei minha Beretta e com muito cuidado me aproximei do conversível.
O motorista estava morto, é claro, rasgado ao meio tão cruelmente quanto a mulher que eu ajudara. Metade de seu rosto estava faltando, e um dos olhos pendurado por uma fina tira de tecido. A lua iluminava diretamente o crânio semi-aberto do homem, fazendo seu cérebro todo parecer brilhante e rosa. O resto de seu corpo parecia ter saído de um triturador de comida. Não havia sobrado muita coisa que pudesse reconhecê-lo como humano.
Eu havia visto muitas mortes nos últimos tempos. Cinco, contando as duas pessoas que haviam acabado de morrer diante de meus olhos. O primeiro assassinato aconteceu há seis meses, e eu estava investigando casos estranhos desde então.
Na verdade, a palavra “estranhos” não se encaixava em metade destes assassinatos. Algo sinistro estava atuando aqui, alguma força além de um simples assassino humano. Eu andava há dias durante 18 horas procurando por respostas, mas até então só recebera em troca um chute no traseiro vindo da imprensa. Eles continuam insistindo que a polícia não está trabalhando duro o bastante no caso. Acho que isso são ossos do ofício quando se é um funcionário público.
Eu voltei para meu carro e peguei o rádio para reportar à sede da polícia. Eu não podia deixar a cena do crime, então esperei até ouvir as sirenes se aproximando, voltando então a seguir para o Lago Vitória. Mas agora não havia mais como chegar a tempo.
Capítulo 2: O Colar
“Billy,” chamei, em meio ao vento úmido do lago, claramente ciente de que estava meia hora atrasado para nosso encontro.
Nenhuma resposta, assim como não houve resposta às minhas chamadas anteriores. A noite ainda estava quente e eu podia sentir o suor gotejando da ponta de meu queixo. Eu me virei e olhei na direção do estacionamento iluminado pela lua. Meu Shelby prata era o único carro parado lá. Será que Billy se cansara de me esperar e fora embora? Ou talvez tivesse escondido seu carro entre as árvores, assim ninguém saberia que ele estava lá.
Eu peguei uma grande lanterna de polícia no porta-malas e iniciei uma busca nos arredores pela floresta. Procurei durante uma hora e não encontrei nada. Exceto pelas lembranças. Billy e eu costumávamos brincar juntos neste parque quando éramos crianças. Nosso local favorito era a marina, na beira do lago. Em um impulso, decidi dar uma olhada no velho prédio.
A porta rangia enquanto eu entrava no prédio escuro e movia a minha lanterna. Eu passei a luz pelo local. Havia uma dúzia de pequenos botes e canoas paradas em vários níveis, algumas cobertas com o que pareciam ser teias de aranhas de anos. O restante do espaço estava ocupado por motores desconectados e várias peças de maquinário e ferramentas.
“Billy, você está aqui?” perguntei. “Sou eu, o Chris.”
Nenhuma resposta. A noite estava silenciosa, exceto pelo leve som de ondas batendo contra o os degraus da marina. Eu estava me virando para sair quando minha luz subitamente iluminou um objeto metálico brilhante no chão. Eu me aproximei e vi um colar de ouro com uma pequena moeda de ouro pendurada.
Eu me abaixei e o peguei, o sangue martelando minha cabeça. Era um colar, um dos dois pingentes idênticos que dei a Billy e sua noiva, Rose, na festa de noivado deles. Eu sempre soube que Rose tinha pavor de água. Ela nunca chegaria perto de uma marina. Então só podia ter sido deixada por Billy. Ele provavelmente a perdera enquanto esperava eu aparecer hoje. Se alguém duvidava que Billy estava vivo e que eu havia falado com ele, aqui estava a prova disso.
Agora, então, eu sabia com certeza que meu velho amigo estava vivo, mas ainda não fazia ideia do tipo de encrenca em que estava metido. Eu também não conseguia imaginar que ligação Billy teria com as mortes brutais que estavam deixando Raccoon City no limite do medo.
Decidi voltar à última cena do crime e ver se os investigadores haviam encontrado alguma coisa.
* * *
Cinco carros de polícia, um guincho e um veículo do necrotério estavam estacionados na rodovia. Eu parei meu Shelby atrás de uma viatura e passei pelas faixas amarelas da polícia que contornavam a cena de carnificina sangrenta.
“Você finalmente voltou,” disse uma grossa voz masculina mais alta do que o ruído dos rádios policiais.
Eu me virei e vi o rosto seboso do Chefe Brian Irons, o responsável pelo Departamento de Polícia de Raccoon City. Brian é o homem que criou os S.T.A.R.S..
“Você foi o primeiro a chegar na cena do crime, Redfield,” disse ele. “Se importa de me dizer por que saiu?”
“Eu pensei ter visto o assassino e fui atrás dele, Chefe,” disse eu, não querendo contar a ele sobre o Billy por enquanto.
“Então, você viu o infrator?”
“Eu vi uma coisa. Não tenho certeza do que era.”
‘Você não está fazendo muitos progressos na solução daqueles assassinatos, não é, Redfield?” disse ele, assumindo o papel do líder hipercrítico da equipe S.T.A.R.S. que todos conheciam e odiavam. O cara se achava demais com seus talentos de reforço da lei, achava que ninguém mais podia ser tão competente.
“Quer resolver por mim, Chefe? Um homem com seus talentos indescritíveis conseguiria resolver o caso em mais ou menos uma hora.”
“Não me venha com sarcasmo.”
“Saia das minhas costas, Chefe.”
Por um longo momento ele me encarou com o fervor arrogante de um fanático religioso. O homem era um ego ambulante. Eu até ouvi falar que ele planejava concorrer para prefeito na próxima eleição. Dez anos atrás, Raccoon City era uma pacata comunidade rural, e o prefeito era uma espécie de tratador de cães. Mas aí a Companhia Umbrella se mudara e construíra uma imensa usina de pesquisa, e de repente havia novos rostos e novos prédios por toda a cidade.
Antes de alguém se dar conta, quase metade da população de Raccoon City estava diretamente dependente da Companhia Umbrella no dia-a-dia. De repente, o trabalho do prefeito se tornou algo maior, um cargo de poder com o qual políticos corruptos poderiam encher seus bolsos.
Com o crescimento da população, a criminalidade também aumentou. Ficou tão crítica que a Companhia propôs estabelecer uma força especial para combater o crime, sendo metade dos investimentos pagos pelos fundos corporativos. A cidade concordou, e os S.T.A.R.S. foram formados.
Brian fora o primeiro comandante da unidade. Depois, dois anos atrás, ele foi promovido a chefe de polícia e o misterioso Albert Wesker o substituiu como líder da equipe dos S.T.A.R.S..
“Eu falo com você mais tarde, Redfield,” disse o chefe finalmente.
“Mal posso esperar por isso, senhor.”
Ele começou a dizer mais alguma coisa, até perceber os repórteres e fotógrafos recém-chegados. Eu podia ouvir as rodas girando. Aqui estava uma chance de Brian conseguir alguma exposição da mídia, e ele não iria perder esta chance valiosa de chamar a atenção de um mero detetive dos S.T.A.R.S..
“Passe o número de assassinatos ao representante que cuida da seção criminal,” ordenou, então fechou sua cara com um olhar de dolorosa preocupação e seguiu até o monte de jornalistas. Eu peguei suas primeiras palavras, um discurso decorado do quão duro ele e sua força inteira estavam trabalhando para resolver a onda de assassinatos. O homem atuou tão bem que devia estar na Organização de Atores.
Uns dois minutos depois, eu percebi o representante olhando Brian com tanto nojo quanto eu. Ele deve ter notado meus olhos nele, porque ele se virou e me analisou, e se aproximou com um olhar pensativo no rosto. “Chris, eu entendo que você chegou quando os assassinatos estavam acontecendo.”
“É. Quase atropelei a garota.”
“Encontramos cápsulas de cartucho na estrada. Eram da sua arma?”
“Provavelmente. Eu esvaziei o pente no assassino.”
“Então você deve ter conseguido ver bem o cara.”
“Eu não disse que era um cara.”
“Pare de fazer piadas comigo, Chris.”
Eu olhei para o chefe por um bom tempo, imaginando se ele teria me jogado na primeira sala de interrogatório quando ouvisse minhas próximas palavras. Só havia um jeito de descobrir. “Eu não acho que essas pessoas morreram pelas mãos de um homem.”
“Você quer me irritar mais uma vez, amigão.”
“A coisa em que atirei não era humana. Era algum tipo de animal imensamente poderoso, uma grande besta negra que lembrava um cachorro. O maior e mais assustador que eu já vi.”
O chefe disse, “Se parecia um cachorro, então talvez fosse um cachorro. Provavelmente um Mastiff ou algum tipo de raça de grande porte. Quanto ao ataque feroz, podia ser raiva.”
“Raiva faria um animal morder um humano, Chefe, mas a doença não transforma cachorros em bestas poderosas e sedentas por sangue. Se você tivesse sentido o fedor terrível daquela criatura, você saberia que o cheiro podre não era por causa de doença. E tem mais. Não dava para matar aquela coisa com balas. Elas sequer diminuem a velocidade. Eu sei, esvaziei minha arma nele.”
“Por que você não vai para a sede comigo, Chris? Te dou a chance de contar a história toda no caminho.”
“Não, obrigado. Se é tudo bobagem para você, prefiro ir para casa e cair na cama. Entregarei meu relatório de manhã. Essa noite foi muito curta e eu estou quebrado.”
Eu me virei e comecei a andar na direção do meu carro. Não iria embora tão cedo, aparentemente, porque quando olhei para trás vi um repórter se afastando da multidão e vindo em minha direção.
“Posso falar com você, Chris?” chamou o jornalista correndo até mim com a ponta de seu sobretudo esvoaçando atrás dele. Era um rapaz que eu conhecia e de quem gostava, mas eu não estava mais a fim de gastar minha saliva com alguém. Ele estava quase se aproximando no carro quando me dei partida e dei uma ré.
“Eu ouvi que você testemunhou as mortes, Chris,” disse ele, correndo ao lado do carro andando para trás. “Quando os S.T.A.R.S. vão fazer alguma coisa para proteger nossos cidadãos?”
“Pergunte ao Chefe Iron,” disse eu, alinhando o Shelby e derrapando bem diante de Brian. Sua expressão furiosa no meu retrovisor era uma visão divertida de se ter.
O velocímetro chega aos oitenta quando eu finalmente tirei meu pé do acelerador e deixei o carro seguir enquanto eu pensava melhor nas coisas. Encontrar Billy era a chave. Eu estava convencido de que ele conhecia o segredo por trás dos assassinatos brutais que estavam apavorando Raccoon City.
Mas como eu encontraria Billy?
Capítulo 3: Sede da Equipe de Resgate e Táticas Especiais
Os S.T.A.R.S. ficavam situados no incrível prédio do DP de Raccoon City. O comandante de nossa unidade, o enigmático e poderoso Capitão Wesker, dividira a força em duas equipes, Alpha e Bravo. Ele assumiu o comando do Alpha, minha unidade, e colocou seu representante de comando, Tenente Enrico Marini, na liderança do Bravo.
Como a maioria dos líderes fortes, Wesker exigia respeito e obediência, e esperava que os membros do Alpha e Bravo acatassem suas ordens sem hesitação. As duas equipes se revezavam e pegavam casos separadamente, exceto quando algo grande acontecia e ambas as equipes eram convocadas.
A Equipe Alpha estava em serviço hoje e quando eu entrei no escritório, senti a tensão no ar. Os relatos de assassinatos brutais haviam chegado a cinco, e todos os oficiais dos S.T.A.R.S. queriam participar da maior investigação na história de Raccoon City. Reparei em Capitão Wesker e em Barry Burton, o expert em armas da equipe e o homem que me recrutara para os S.T.A.R.S., parados no meio da sala tendo uma acalorada discussão. O rosto de Barry estava vermelho como pimentão e sua linguagem corporal me dizia que ele estava muito enfurecido.
“Estou cansado e farto de ficar aqui parado sem fazer nada enquanto um assassino cruel persegue nossos cidadãos,” gritou Barry a Wesker. “Eu quero um pouco de ação, assim como os outros membros dos S.T.A.R.S.. Pergunte a eles.”
“Nossa hora vai chegar, Barry,” disse Wesker, sua voz fria e rígida. “Eu quero ir atrás do assassino tanto quanto você. Até mais, talvez. Mas somos policiais, e não vigilantes. Por mais que isso incomode, não nos mexeremos até termos ordem do Chefe Irons.”
Eu reparei que dois membros da equipe Alpha, Jill Valentine e Joseph Frost, sacudiram a cabeça com as ordens de Wesker. Normalmente, um oficial de polícia não questiona uma posição de seu superior, especialmente se o superior é uma figura poderosa como Wesker. Mas os membros dos S.T.A.R.S. haviam sido selecionados a dedo por sua destreza e suas habilidades investigativas já conhecidas, e cada um de nós tinha uma personalidade forte e única.
“Você tem nos dado a mesma resposta há meses já,” disse Jill, seus grandes olhos azuis brilhando. Eu gostava dela. Com seus cabelos curtos e lisos e corpo magro, alguém poderia subestimar sua força e agilidade. Na realidade, ela era uma oficial de polícia durona e inteligente que já tirou mais de um membro do S.T.A.R.S. de encrencas.
“Isso mesmo”, Joseph deu continuidade ao argumento de Jill. “Toda vez que tocamos no assunto, você nos faz o discurso da hierarquia de comando.”
“Não funcionaríamos sem a hierarquia de comando,” disse Wesker calmamente. Ele era bem assim, calmo, reservado, certo de sua posição. Você nunca sabia de fato o que o homem estava pensando, simplesmente, seja lá o que ele tivesse em mente, iria ser feito do jeito dele.
“As coisas mudaram desde a noite passada,” voltou Jill. “Um dos nossos da equipe S.T.A.R.S., o Chris, viu o assassino com seus próprios olhos. Isso não acrescenta em nada?”
“Eu não sei,” disse Wesker, virando-se para mim. “O que você viu acrescenta em alguma coisa, Chris?”
Eu hesitei, sentindo todos os olhos em cima de mim, certo de que ninguém na sala acreditaria em minha história inacreditável.
“Se tivermos qualquer chance de pegar esta coisa, precisamos saber o que você viu, Chris,” apressou-se Barry urgentemente.
Eu consenti com a cabeça. “Está bem, mas eu aviso todos vocês, o que eu tenho a dizer irá pirar as suas mentes.”
“Nossas mentes já são piradas,” brincou Jill. “Foi assim que conseguimos emprego nos S.T.A.R.S..”
Os risos que vieram em seguida quebraram a tensão na sala e eu comecei minha história. Passei os vinte minutos seguintes contando a meus colegas o que havia testemunhado na noite anterior, deixando de fora apenas a parte sobre Billy. Billy era um mistério e eu preferia solucionar sozinho.
Os rostos dos outros membros dos S.T.A.R.S. estavam incrédulos à princípio quando descrevi a besta que havia visto. Depois, talvez porque todos eles me conheciam, sabiam que eu não estava brincando, seus olhares se iluminaram e eu pude perceber que eles estavam começando a crer.
“Que história, Chris,” disse Wesker quando eu terminei.
“Você sabe o que dizem, Capitão, a verdade é mais estranha do que a ficção.”
Ele me lançou um demorado olhar de julgamento. “Certo, eu vou precisar de um relatório escrito. E Brian sem dúvidas vai querer que você faça parte dele. Afinal, você foi a única testemunha de um duplo homicídio.”
“Entendido,” disse eu, então dei um breve aceno de cabeça a Barry e segui até a porta.
Na metade do caminho no salão, ouvi alguém apressado atrás de mim e me virei. Era Jill.
“Chris, quero falar com você,” disse ela, com uma expressão de reserva em seus olhos.
“Tudo bem, Jill, o que foi?”
“Seu relato do que aconteceu na noite passada não me pareceu, bem, completo.”
“O que você acha que eu deixei de fora?”
“Não sei, apenas sinto que você está escondendo alguma coisa,” disse ela, seus olhos inteligentes e coloridos vidrados em meu rosto.
“Você é policial há muito tempo, Jill. Suspeita de todo mundo.”
“Depois de testemunhar os crimes, você chamou a polícia, certo?”
A garota era insistente, eu tinha que fazer isto. “Sim, foi o que aconteceu.”
“Depois você saiu em disparada atrás do assassino. No seu carro.”
“Isso.”
“Mas você disse que a besta correu para dentro da floresta. Pode me dizer como conseguiu se enfiar dentro daquela floresta escura com o seu Shelby? E depois, por que você voltou para a cena do crime?”
“Pensei que talvez pudesse ajudar.”
“Mesmo?”
“Sim, mesmo. Por favor, Jill, deixa pra lá essa ar de mistério. Eu te contarei tudo quando chegar a hora certa.”
O barulho de crianças brincando lá fora ecoou pelo grande salão e Jill se assustou com o som. Visivelmente assustada, ela andou até a janela e olhou para fora. A luz que entrava realçou as mechas douradas em seu cabelo, e, apesar de todo o interrogatório desta manhã, eu tive um relance de como ela estava se sentindo.
Jill amava crianças, e elas também a amavam. Várias de suas saídas de situações de risco como membro dos S.T.A.R.S. viraram notícia nas televisões locais, e milhares de jovens agora a viam como sua nova heroína.
Então, o som da gargalhada de uma menina ecoou lá de baixo, e eu de repente me lembrei da razão de Jill estar tão triste. As crianças vizinhas de Jill, duas meninas para quem Jill havia se tornado uma segunda mãe, haviam sido as primeiras vítimas da besta. Elas haviam ido para um acampamento com seus pais e acabaram entrando na floresta. Quando seus pais as encontraram, elas já estavam mortas, seus corpos horrivelmente mutilados.
“Você está bem?” perguntei.
“Eu estava pensando na Becky e na Priscilla. Eu vi seus corpos no necrotério, sabe? Seus olhinhos que viviam tão cheios de vida. Eles estavam cheios de medo. Medo e morte.”
“Sinto muito, Jill. Eu sei o quanto aquelas crianças significavam para você.”
“Sim,” disse ela. “Bom, Chris, não vou chegar a lugar algum com você. Até mais tarde.”
“Me dê um tempinho, Jill,” disse. “Acho que uma parte importante do quebra-cabeça caiu no meu colo ontem à noite, mas não tenho certeza ainda. Quando eu tiver, você será a primeira a quem contarei.”
“Acho que só me resta esperar,” disse ela, seus olhos cobertos de dúvida enquanto se virava e se afastava pelo salão.
Capítulo 4: Procurando Respostas
Eu precisava de mais informações sobre Billy do que eu já tinha, e pensei em fazer uma visita surpresa à Companhia Umbrella. Como se estivesse interesse na parte dos negócios, e ver o que tiraria disto. Enquanto estava dirigindo pela estrada que dava para o complexo da companhia, comecei a rever o que sabia sobre a companhia.
Primeiramente, eles pareceram generosos demais quando resolveram fundar os projetos de novos prédios municipais. Raccoon City se expandiu, com ruas de três faixas, escolas modernas, um hospital que era uma obra de arte e uma nova prefeitura. Normalmente, uma cidade de apenas 300.000 habitantes não teria fundos para pagar por todo este luxo. Mas a Companhia Umbrella – com seus tentáculos presos a tudo – insistiu em ajudar a financiar serviços públicos.
O complexo da companhia apareceu durante uma curva na estrada e eu diminuí a velocidade do Shelby para dar uma olhada melhor. A estrutura mais imponente era o prédio corporativo de 20 andares da Umbrella. Suas paredes de tijolos rosa com formas geométricas que davam à estrutura uma aparência ameaçadora, como se o prédio guardasse um anfitrião cruel e impiedoso.
Eu estacionei o Shelby perto do prédio de entrada e entrei. A área da recepção tomava metade do andar térreo e tinha pelo menos muitos metros de altura. Sem dúvida, criado para impressionar os visitantes com o poder da Umbrella. Há uns 50 metros de onde eu estava, uma bela moça de cabelos escuros me lançou um sorriso.
Bem, um convite era um convite. Eu praticamente deslizei pelo granito polido até sua mesa.
“Bem vindo à Umbrella,” disse ela, lançando mais um daqueles sorrisos perfeitos de recepcionista. “Em que posso ajudá-lo?”
Eu fiz a expressão mais séria que pude. “Um amigo meu, um rapaz chamado Billy Rabbitson, era um dos passageiros a bordo do jato particular da Umbrella que caiu há três meses.”
“Sim, foi uma tragédia terrível,” disse a garota. “Lamento seu amigo estar entre as vítimas.”
“Obrigado. Eu sou o responsável por seus bens e preciso pegar alguns detalhes sobre o histórico profissional do Sr. Rabbitson na Umbrella. Sabe, ele tinha apólices de seguro, planos de aposentadoria, algo do tipo?”
“Deixe-me ver se alguém dos Recursos Humanos pode ajudá-lo,” disse ela, pegando o telefone.
Eu dei uma averiguada em sua mesa enquanto ela falava; uma foto de um casal mais velho, provavelmente mamãe e papai, fichário, relógio, papéis legais, duas pastas e uma pequena erva plantada em um copo de café. Tudo arrumado. Uma moça organizada.
Ela desligou o telefone. “Vou mandá-lo para a seção de Recursos Humanos, Senhor Redfield. No elevador à esquerda, décimo segundo andar. Alguém irá atendê-lo.”
Eu a agradeci, cruzei o lobby e subi pelo elevador. Uma secretária estava esperando no décimo segundo andar. Ela me levou até um escritório todo decorado no canto onde o diretor de Recursos Humanos estava esperando por mim atrás de uma enorme mesa de mogno. O homem se levantou com um sorriso artificial, uma mão com um anel rosa erguida levemente diante de seu terno de aparência cara, e se apresentou como Reginald Johnson. Nós apertamos nossas mãos e ele gesticulou na direção de uma confortável poltrona de frente para sua mesa.
“Eu fui informado que o senhor quer informações sobre o finado Sr. Rabbitson,” disse ele, enquanto eu me afundava no assento de couro. “Posso perguntar qual é seu interesse nele?”
“Sou um velho amigo de Billy, assim como o responsável por seus bens,” disse eu. Oras, meia verdade era melhor do que nenhuma. “Eu estou aqui para saber sobre seguros ou pedidos de aposentadoria que ele possa ter tido em sua companhia.”
“Todas essas informações foram mandadas à família Rabbitson logo após o acidente,” disse Johnson. “Com certeza, como responsável pelos bens, você deve ter recebido cópias de todos os registros pertinentes até agora.”
Droga! Eu tinha caído nessa. “Na verdade, sim, eu vi todas as informações que você falou, só queria saber pessoalmente para ter certeza de que conferi tudo. Tenho que fazer tudo certo pelo meu velho amigo, sabe?”
Durante todo o tempo em que eu falava, Johnson ficara me olhando com seu sorriso seboso, como se soubesse que eu estava mentindo.
“Eu tenho uma reunião marcada em alguns minutos, Senhor Redfield. Há mais alguma coisa em que posso ajudá-lo?”
“Só mais uma coisa. Esta nova pesquisa em que Billy estava envolvido. No que exatamente ele estava trabalhando?”
“Eu não sei. Meu trabalho é nos Recursos Humanos, não na pesquisa.”
“Só pensei que você pudesse ter ouvido falar de alguma coisa.”
“Sinto muito. Como amigo próximo do Senhor Rabbitson, talvez o console saber da grande consideração que nós da Umbrella tínhamos por ele. Ele era um pesquisador dedicado e talentoso, e tanto sua contribuição para a companhia quanto sua personalidade acolhedora farão muita falta para todos aqui.”
Eu estudei o rapaz por um longo momento. Ele era um burocrata, um daqueles funcionários insossos tão importantes para a boa gestão da companhia. Ele provavelmente fingira mais de uma vez em seu emprego, mas eu não o imaginava como um mentiroso. Ele realmente acreditava que Billy estava morto.
Eu me ergui para sair. “É uma infelicidade o corpo de Billy nunca ter sido encontrado,” disse eu, tentando jogar uma última isca. “Quero dizer, sem o corpo, fica sempre uma ponta de dúvida.”
“Eu garanto a você que não há dúvidas quanto a isto. Os corpos resgatados estavam destruídos demais para um reconhecimento. O legista teve literalmente que adivinhar a quem pertenciam quais partes do corpo. É possível que parte do Senhor Rabbitson tenha sido colocada no caixão de outra pessoa.”
“Mas você não tem como ter certeza de que algo do Billy tenha sido enterrado.”
“Senhor Redfield, mesmo se seu amigo tivesse sobrevivido à queda, ele teria se afogado ou congelado, perdido no meio do lago.”
Eu me ergui para sair. “Já tomei demais do seu tempo, Senhor Johnson. Se aparecer alguma coisa sobre o Billy ou seus bens, eu agradeceria um telefonema seu.”
“Certamente. Poderia me dar seu endereço e telefone, por favor?”
Eu pensei em dar a ele meu número e endereço de casa, assim ele não saberia que eu era um policial. Então, me dei conta de que podia acabar topando com ele de novo durante a investigação, e não tinha nada a ganhar criando uma mentira.
“Eu sou da unidade dos S.T.A.R.S. do DP de Raccoon City,” disse, anotando o número da sede. “Talvez já tenha ouvido falar de nós.”
Seu rosto registrou surpresa, mas não sua voz bem colocada. “Sim, de fato, e posso dizer que é uma honra conhecer alguém da elite de Raccoon City que luta contra o crime.”
Eu fiquei de pé para sair. “A honra é toda minha, Senhor Johnson. A Companhia Umbrella sempre apoio nosso trabalho nos S.T.A.R.S. e somos gratos.”
“Não há de quê.”
Nós nos despedimos com um aperto de mãos e eu me virei para a porta. Então, já no meio da sala, eu dei minha cartada final. “Oh, antes que eu me esqueça, tem mais uma coisa. Se Billy está morto, acho que posso cancelar todas as suas associações com todas aquelas organizações científicas.”
A pergunta parecia tê-lo incomodado, e era o que eu pretendia. “Por que você diz ‘se’ Billy está morto? Por que ainda dúvida?”
“Eu duvido de tudo, Senhor Johnson,” disse, abrindo a porta do escritório. “O que o senhor esperava? Eu sou um policial.”
Capítulo 5: Um Cadáver Vivo
Minha primeira parada foi em casa. Eu precisava de uma camisa limpa e de algo para comer. Não achei nenhum dos dois. Em vez disso, encontrei o jornal da noite jogado nos primeiros degraus da frente, com a manchete virada para mim como se tivesse um dedo acusatório: OFICIAL DOS S.T.A.R.S. NO MEIO DOS ASSASSINATOS.
Eu não estava “no meio” dos assassinatos, eu os descobri. Há uma grande diferença. Malditos repórteres espertinhos. Levei o jornal para dentro, me sentei na minha cadeira reclinável favorita feita de imitação de couro comprada de segunda mão e comecei a ler a história logo abaixo da manchete.
Comecei a me enervar em alguma parte no meio do parágrafo principal. No final da matéria, dava para ficar bronzeado se sentasse do meu lado, eu estava fervendo. O escritor me chamou de incompetente por “ter corrido atrás de um ganso selvagem enquanto o assassino fugia”. Isso é absurdo demais de engolir.
Para piorar tudo, o repórter citou Brian diversas vezes na história. Obviamente, o homem era incapaz de reconhecer alguma coisa ao público quando ouvisse. Brian provavelmente já estaria praticando seu discurso político de aprovação. Joguei o jornal no chão, enojado, e fui até a secretária eletrônica piscando. Havia oito mensagens em espera: seis de repórteres, uma de minha irmã e uma de meu superior, Albert Wesker. Fiz uma anotação mental para ligar para minha irmã e ignorei o resto.
Enquanto estava ouvindo a última mensagem, senti o cabelo em minha nuca se arrepiar. Tive aquela sensação súbita que se tem quando sente que alguém o está observando. Dei meia volta, mas não havia ninguém mais na sala. Numa rápida busca, não encontrei ninguém em lugar algum da casa.
Talvez eu estivesse ficando paranóico. Ainda assim, não conseguia me libertar da estranha presença de alguém por perto. Senti que alguém ou algo esteve em minha casa, e talvez ainda estivesse lá. Fui até meu quarto e peguei o estojo de madeira onde estavam minha espingarda Remington calibre 12 e minha pistola Colt calibre 45. Trouxe as duas armas para a sala e carreguei ambas.
Eu estava olhando distraído pela janela enquanto colocava o último cartucho na espingarda quando a sensação de estar sendo observado de repente voltou de novo. A sensação de olhos me observando era mais forte agora, como carvões quentes pressionados contra minhas costas. Eu me virei e olhei pela janela, mas não havia nada lá fora além de folhas passando ao vento.
Eu virei de volta para pegar a espingarda e ouvi o som de vidro espatifando ao mesmo tempo em que fui enxovalhado com estilhaços afiados da janela. Antes que pudesse me virar, dois grandes braços entraram pela janela agora aberta e me prenderam por trás pelo pescoço. As mãos eram fortes, como tentáculos de aço fechando minha respiração.
Incapaz de me soltar do agressor, comecei a sentir que estava ficando inconsciente enquanto meus pulmões gritavam por oxigênio. A arma caiu de minha mão. Então, como se todos os túmulos em Raccoon City tivessem sido abertos ao mesmo tempo, um fedor de podridão invadiu o ar. Era um cheiro de carne apodrecendo. Carne humana.
Fora de meu campo de visão eu pude ver os braços horríveis da criatura. A pele havia passado de rosa para preta, e ambos os braços estavam cobertos de cicatrizes que pareciam ter sido feitas a unha. Eu já havia visto braços assim antes. Em uma das vítimas de assassinato que havia sido descoberta vários dias depois de sua morte.
Meu sangue se transformou em gelo. Eu estava sendo atacado por algo que parecia e cheirava como um cadáver. Enquanto eu puxava as mãos que estavam em volta de meu pescoço, uma grande quantidade de carne de repente saiu em minhas mãos, revelando o músculo vermelho e os tendões embaixo.
Eu podia sentir que estava escorregando agora. Tinha que fazer alguma coisa para me livrar do monstro. Um bastão. O que eu poderia usar como bastão? Uma garrafa de whisky Jack Daniels cheia olhou de volta para mim de uma mesa próxima à janela. Eu me estiquei, agarrei a garrafa e joguei para trás de meus ombros o mais forte que pude na direção de onde a cabeça daquela besta deveria estar.
Um grito de dor alto, meio-humano, tomou a sala enquanto a criatura soltava meu pescoço e caía pela janela. Peguei a espingarda e disparei pela porta, determinado a estourar a besta em pedaços antes mesmo de conseguir recuperar meu fôlego. Do lado de fora, o odor de podridão e morte estava ainda mais forte.
Eu virei a espingarda para frente e para trás em forma de arco, enquanto me aproximava da janela, pronto para encher a criatura com dez balas. O único problema era que a besta não estava mais lá. Apenas painéis estilhaçados da janela marcavam o lugar onde ela a criatura estava. Totalmente confuso, eu estava prestes a voltar para dentro quando ouvi um barulho quase imperceptível vindo do bosque em volta de meu terreno.
Me virei e ouvi um segundo som. Desta vez mais alto. Um leve estalo ou algo do tipo. Fui rastejando, ambas as mãos agarradas no cabo da espingarda. “Saia daí ou eu atiro,” gritei na direção do barulho.
“Chris, pelo amor de Deus, não atire. Sou eu.”
“Eu quem?”
Uma figura familiar saiu de trás das árvores. “Jill, seu bobalhão.”
Eu baixei a arma. “Como eu ia saber que era você? O que você estava espiando no meio do mato, afinal?”
“Eu não estava espiando. Estava tomando um atalho para sua casa. Minha Harley quebrou a mais ou menos um quilômetro daqui.” Seu nariz se torceu. “O que é este cheiro horrível? É nauseante!”
“É uma longa história, Jill,” disse eu, não querendo contar a ela que fora atacado por um cadáver. Imaginei que como parte da equipe S.T.A.R.S., ela acabaria descobrindo muito em breve. “Olha, eu preciso fazer uma coisa importante. Posso te dar carona para algum lugar?”
Jill me encarou com seu olhar de pedra; uma espécie de olhar que queria dizer que apenas a destruição total do planeta a tiraria de lá. “Por que está tão desesperado para se livrar de mim?”
“O que colocou tal pensamento em sua cabeça?”
“Corta essa, Chris. Eu te conheço. Você está trabalhando em alguma coisa, não está? Você sempre foi um lobo solitário.”
“E você quer se juntar ao solitário.”
“Eu mataria por esta oportunidade.”
Eu não precisava perguntar quem ela mataria. “Sabe, Jill, você é a pessoa mais bonita que já me ameaçou. Certo, pode vir.”
“Simples assim?”
“Simples assim. Venha, vou te contar tudo o que aconteceu no caminho.”
“Aonde vamos?”
“Isso faz parte da história.”
Dei partida no Shelby, pisei no acelerador e queimei os pneus no gramado da frente. O carro esportivo bem cuidado desceu a rodovia como uma bala, jogando Jill para trás no assento.
“O que é isso, o Bat-Móvel?” gritou ela em meio ao som do vento.
“Tinha uma ligação do Wesker na minha secretária eletrônica,” gritei também. “Você sabe o que ele quer?”
“Seu couro pendurado na parede.”
“Algum motivo em especial?”
“Dá para você fechar os vidros? Assim eu consigo te ouvir.”
Eu apertei o botão do vidro no painel. “Melhorou?”
“Graças a Deus, sim. Mais cinco minutos e eu teria que passar o resto da vida com um aparelho auditivo atrás das minhas orelhas.”
“Então, por que o Wesker está tão bravo?”
“Ele tem várias razões, na verdade. Número um, o chefe está na cola dele exigindo uma explicação de onde você foi depois dos assassinatos. Você não explicou isso a ninguém ainda, inclusive eu.”
“Qual é a segunda razão?”
“Aparentemente, o gerente de Recursos Humanos da Umbrella ligou para o Brian para reclamar de sua visita repentina. Naturalmente, você não foi como se tivesse tido ordem, e naturalmente Brian ficou furioso.”
“Deixa eu adivinhar. Brian ligou para Wesker e encheu seus ouvidos. E agora o Wesker está louco da vida comigo também.”
“Você sabe como o Wesker é mandão. Ele está furioso, mas não dá para saber disso pela sua cara ou comportamento. O cara é discreto e frio como aço.”
“Mais alguma coisa que eu precise saber?”
“Sim, Chris. Wesker me mandou levá-lo pessoalmente ao escritório.”
“Então era por isso que você estava indo para minha casa.”
“Exatamente. O cara está precisando muito te ver.”
“Ele vai adorar quando descobrir que você estava dando um passeio comigo enquanto ele esperava.”
“Pelo bem de nós dois, é melhor este seu plano acabar, Chris. Entende o que eu quero dizer?”
“Se descobrirmos algo importante, nós viraremos queridinhos da imprensa imediatamente, e o Brian e o Wesker não vão se atrever a colocar as mãos em nós. Mas se voltarmos de mãos vazias, seremos duas peles na parede do Wesker.”
“Se vão arrancar minha pele, eu quero saber o porquê. O que está acontecendo, Chris?”
“Durante os dez minutos seguintes, eu contei tudo a Jill enquanto dirigia. “Isso é tudo que posso te falar,” finalizei. “Estou convencido de que meu velho amigo Billy não apenas está vivo como também tem algo a ver com os terríveis assassinatos em Raccoon City.”
“Isso é tudo muito fantástico,” disse Jill. “Se eu não te conhecesse, Chris, diria que você inventou tudo.”
“Eu bem queria que fosse isso mesmo.”
Capítulo 6: Outro Pedaço do Quebra-Cabeça
Nós pensávamos em várias teorias do que estava acontecendo, até cairmos em um silêncio profundo, pensando em silêncio, enquanto íamos à cabana de Billy. Alguns minutos depois, cruzamos uma ponte sobre um lago e paramos em frente a um local rústico.
Assim que saímos do carro, dei uma olhada no asfalto em volta. “Sem marcas de pneus,” observei. “Parece que já faz um tempo que ninguém vem aqui.”
Jill chegou perto da porta e se virou. “Choveu ontem à noite, Chris. A Legião Estrangeira Francesa pode ter passado com carroças de areia e aí não ficaria uma marca hoje.”
Eu me sentia um verdadeiro idiota. Um pouco depois, me senti mais idiota ainda quando tentei abrir a porta da cabana e vi que estava trancada. Jill não se conteve. “Você esqueceu de pegar a chave com a Rose. Estou certa?”
“Está certa. Você é cruel também.”
Jill rolou os olhos e tirou um grampo de suas mechas curtas. Agachou-se na altura da fechadura e, talvez uns dois segundos depois, a porta estava aberta. “Você primeiro, Chris,” disse ela, o orgulho escorrendo em sua voz como mel de uma montanha. Eu engoli meu orgulho e passei por ela. Lá dentro, o ar tinha um cheiro de velharia, como o de uma mala que não era aberta há muito tempo.
“Billy,” chamei. “Você está aí? Aqui é o Chris,”
Apenas os ecos me responderam e eu me virei para Jill. “Eu vou subir e verificar o segundo andar. Você olha aqui.”
“Espera, Chris,” disse ela, apontando na direção de várias latas de cerveja jogadas pelo chão empoeirado. “Aquelas latas parecem meio novas.”
Eu me agachei e peguei uma. “É a marca favorita do Billy, não que isto prove alguma coisa. Certo, vamos manter o plano. Eu vou lá para cima.”
Verifiquei os dois quartos e o banheiro do segundo andar, e então voltei, encontrando Jill saindo pela porta da cozinha. “Encontrou alguma coisa?” perguntei.
Jill sacudiu a cabeça. “Nada fora do lugar. E você?”
“Nada também. Talvez devêssemos” – eu parei no meio da frase, um pânico tomando conta de mim quando o cheiro de podridão encheu a sala. Jill também o sentira.
Ela me olhou, seus olhos cheios de medo. “São eles, não é?”
Eu balancei a cabeça. “São. Agora fique quieta. Temos que ouvir. Temos que saber de que direção eles estão vindo.”
Um momento depois, nós os ouvimos. No quintal. Mas não era um som normal de passos se aproximando. Não, as criaturas vindo atrás de nós estavam arrastando seus pés pelo chão sujo como se suas pernas fossem pesadas demais para levantar. Pelo barulho, supus que pelo menos quatro ou cinco criaturas estavam se aproximando da cabana.
Jill e eu ficamos grudados ao chão, nossos olhos fixos na porta de entrada. Do lado de fora, um coral de murmúrios de congelar a espinha começou a crescer, um hino dos mortos. Nós nos preparamos para o ataque, e segundos depois as criaturas entraram pela porta. Elas vieram atrás de nós como búfalos em duas patas, e pude escutar Jill gritando enquanto lutávamos para sobreviver.
Enquanto eu lutava com duas das criaturas, consegui ter uma boa visão de seus rostos pela primeira vez. Seus ossos estavam evidentes em suas faces sem sangue e seus olhos saltados como os de algum tipo de inseto horrível. No lugar dos dentes caninos humanos, as criaturas tinham presas longas e amareladas, que poderiam facilmente destruir um corpo a mordidas. Lancei meu punho na mandíbula do monstro que estava mais perto, e o cheiro agora conhecido de decomposição e morte saiu de sua boca como água de esgoto.
Eu estava perdendo minha batalha com a criatura, e julgando pelo som de desespero vindo do lado de Jill, ela também estava prestes a cair. Eu já estava perdendo as esperanças quando uma voz familiar gritou de repente, “Atire neles. Chris!”
Fora de meu campo de visão, eu notei Billy parado diante da porta da cozinha. “Eles não são humanos,” gritou ele. “São zumbis.”
Usando minhas últimas forças, consegui me soltar e pegar minha espingarda. Kaboom! Kaboom! Dois disparos no estômago rasgaram meu agressor em dois. Mas incrivelmente diante de meus olhos, o zumbi regenerou sua carne e veio atrás de mim novamente.
“Atire na cabeça deles, Chris,” falou Billy gritando. “É o único jeito de matar um zumbi.”
Eu dei um tiro certeiro no rosto da besta. A força da bala explodiu sua cabeça e ela espirrou contra uma parede. Exercitei minha espingarda no zumbi que estava atacando Jill, e destruí sua cabeça também. Finalmente livre da força do zumbi, Jill caiu no chão. Eu me ajoelhei ao seu lado.
“Você está bem?”
“Estou – Acho que sim,” ofegou ela, sua mão na garganta avermelhada. “Preciso de um minuto.”
Um grito terrível me fez levantar novamente. Viera de Billy. As três criaturas que restavam o haviam cercado e estavam rasgando seu pescoço com suas presas horrendas. Uma ferida assustadora havia se aberto na garganta de Billy, e seu peito ficara cheio de sangue.
“Vamos,” gritei, levantando Jill. “Temos que tirar aqueles zumbis de cima de Billy e nos abrigar na cozinha.”
“Me dê a sua pistola Colt,” disse Jill.
Eu entreguei a ela a grande pistola. “Precisamos concentrar fogo. Atire neles na cabeça até esvaziar o seu pente. Entendeu?”
“Entendi.”
“No três. Um – dois – três!”
Os disparos de nossas armas arrancaram os zumbis de Billy. Jill e eu corremos pela sala, o agarramos pelos braços e o arrastamos para a cozinha. Jill bateu a porta depois que passamos enquanto eu deitava meu velho amigo no chão. Juntos, Jill e eu conseguimos empurrar um pesado armário contra a porta da sala de estar. Então, nos ajoelhamos ao lado de Billy, um de cada lado.
“Agüente firme, amigão,” disse eu. “Vamos te levar para um hospital. Você vai ficar bom. Você precisa pensar nisso, Billy. Você vai ficar bom.”
“Não… não dá,” ofegou Billy, sua respiração vindo com dificuldade em meio ao líquido.
Oh, Billy…
“Resta pouco tempo. Ouçam. Precisam ouvir.”
Jill e eu olhamos um para o outro. Billy estava certo. Ele não ficaria bom. O melhor que podíamos fazer era ouvir suas últimas palavras.”
“Certo, Billy,” disse eu calmamente. “O que você quer nos contar?”
“Eu fugi.”
“Fugiu? De onde?”
“Laboratório secreto de pesquisas,” respirou ele, um pouco de sangue escorrendo do canto de sua boca. “Eu era o único… fugi.”
Minha mente girou. Pedaços do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar. Se Billy estava sendo perseguido pelos que o mantinham, eles podiam ter certeza de que ele ligaria para algum amigo confiável. E não demoraria muito para eles imaginarem que eu era este amigo. Eles provavelmente haviam grampeado meu telefone e sabiam que eu iria encontrar Billy no Lago Vitória. Obviamente, eles chegaram lá antes, e deixaram o colar.
Billy soltou uma tosse do fundo da garganta e eu sabia que ele não agüentaria muito tempo. “Esta pesquisa secreta que você estava fazendo, Billy, tem algo a ver com os zumbis, não tem?”
Ele balançou a cabeça fracamente. “Nós éramos obrigados a… a desenvolver um vírus.”
Jill disse,”Que tipo de vírus?”
“T-Virus. Transforma humanos em zumbis.”
O sangue escorria de sua boca agora como um rio.
“Billy, você precisa nos contar, como fazemos para impedir estas coisas?”
“Não dá… não dá para impedir…”
Um último suspiro escapou dos pulmões de Billy e seu corpo amoleceu. Eu olhei para meu amigo de infância por um minuto terrível, então me ajoelhei e fechei seus olhos arregalados.
“O que vamos fazer, Chris?”
“Vamos correr para o carro. Já recarregou?”
“Sim.”
“Certo, vamos pela porta dos fundos. Eles ainda estão na sala de estar, então não nos verão até chegarmos onde estacionamos. Assim que dermos a volta na cabana, abra a porta de entrada. Quero fazer uma cortina de fogo por onde eles terão que passar para nos pegar. Pronta?”
“Vamos nessa.”
“Eu segui na frente pela porta dos fundos e ao redor da cabana. Paramos em um canto, colocamos nossas armas na altura do rosto e corremos o máximo que pudemos até o carro, as balas de nossas armas disparando fogo na porta atrás de nós. Um dos zumbis conseguiu sair e eu o derrubei com um dois tiros no rosto.
Chegamos ao Shelby e eu quase arranquei a porta para poder entrar. Virei a chave e o belo motor deu partida, seu ronco duelando contra os bizarros grunhidos dos zumbis atrás de nós. Dois deles conseguiram sair e já estavam quase se aproximando do carro quando eu dei a arrancada, coloquei o carro em posição e acelerei a caminho da pequena ponte que levava até a cabana.
Deixei que se criasse um espaço de cem metros entre nós e os zumbis antes de tirar meu pé do acelerador. Olhei para Jill. Seu rosto ainda estava pálido, mas aquele olhar determinado estava de volta. Eu disse, “Ainda bem que você estava comigo.”
“Não mesmo.”
“Não, é sério. Se eu estivesse sozinho, duvido que alguém acreditaria que eu fui atacado por zumbis. É muito incrível. Mas com duas testemunhas, eles terão ao menos que nos ouvir.”
“Mal posso esperar para ver a cara de Wesker quando fizemos nosso relatório. Eu nunca o vi perdendo a calma, mas ter um bando de zumbis assassinos à solta no caso que ele comanda pode fazer isso acontecer.”
Eu ri. “Não conte com isto. O cara é uma rocha.”
“Você acha que ele vai acreditar na gente?”
“Ele tem que acreditar,” disse eu. “Se alguém está usando um vírus para criar zumbis, vamos precisar de Wesker e de todos os outros membros dos S.T.A.R.S. para impedi-los.”
Capítulo 7: Os S.T.A.R.S. Entram em Ação
O escritório dos S.T.A.R.S. estava um caos total quando voltamos. Em um dos cantos, Richard Aiken, o especialista em comunicação de 23 anos da unidade, estava gritando em um fone, enquanto do outro lado da sala Wesker estava andando de um lado para o outro claramente irritado.
Ele visualizou a Jill e a mim, consentiu com a cabeça e voltou a franzir a testa. Obviamente, nosso líder tinha muita coisa em mente. E nós nem havíamos contado a ele sobre os zumbis ainda.
Aiken subitamente passou a gritar ainda mais alto e eu me virei, pensando o que poderia está-lo deixando tão nervoso. “Equipe Bravo, central dos S.T.A.R.S. chamando. Estão me ouvindo?” Ele esperou dez segundos, então tentou novamente. “Equipe Bravo, S.T.A.R.S. chamando. Respondam, Bravo.” Mais dez segundos de nada, e Aiken apertou o botão de envio pela terceira vez.
Comecei a ter uma estranha sensação na boca de meu estômago. Algo de ruim estava acontecendo. Eu fui até o outro lado da sala e interrompi os passos de Wesker. “Qual é o problema, Capitão?”
Ele me olhou demoradamente sem dizer nada, os músculos de sua mandíbula trabalhando furiosamente, como se ele não conseguisse dizer a tragédia que havia caído sobre os S.T.A.R.S.. Finalmente, retomou o autocontrole e colocou sua mão em meu ombro. “A Equipe Bravo desapareceu. Sumiu sem deixar rastro.”
Levei um minuto para digerir aquilo. “Aqui não é o Triângulo das Bermudas, Capitão. Uma equipe inteira de oficiais bem treinados não desaparece assim no ar.”
“O Bravo, sim. Venha aqui, quero te mostrar uma coisa.”
Wesker me levou para o outro lado da sala até um mapa de Raccoon City na parede. Um grupo de alfinetes coloridos formava um grande círculo ao redor de uma vizinhança na parte noroeste da cidade. “Cada um destes alfinetes representa uma cena de crime,” disse ele.
Eu balancei a cabeça, reconhecendo os locais de minha investigação.
“Repare que os alfinetes contornam uma área específica. Quase como um alvo no olho de um touro.”
Eu estudei o mapa. Os alfinetes pareciam circular uma região de grande tamanho no centro. “O que é este prédio aqui no meio?”
“É a velha hospedaria da cidade. Estando no meio das cenas dos crimes, parece lógico que o assassino ou os assassinos podem estar se escondendo lá. Então, faz umas três horas que mandei a equipe Bravo ir investigar.” Wesker deu um soco frustrado no ar. “Eles não voltaram mais. Nenhum deles.”
Meu rosto esquentou. Era hora de contar ao homem o que estava acontecendo. “Jill e eu acabamos de encontrar os assassinos,” disse eu.
Wesker fixou seus olhos em mim. “Vocês viram os assassinos? De perto?”
“Bem de perto, Capitão.”
“Como eles são? Vou trazer um desenhista aqui.”
“Não será necessário, senhor. Ninguém terá problemas em reconhecer os assassinos.”
“Quer me dizer por quê?”
“Eles são zumbis, Capitão. Mortos ambulantes.”
Durante os dez minutos seguintes, eu contei a um incrédulo Wesker tudo o que sabia; a ligação de Billy, a pesquisa secreta e, finalmente, o T-Virus que transformava animais em bestas matadoras e humanos em zumbis assassinos. Jill se juntou a nós, confirmando tudo o que eu dizia e contando ao capitão sobre nossa fuga por um triz da cabana de Billy.
Wesker permaneceu em silêncio por vários e longos minutos depois que terminamos de contar nossa história. Finalmente, ele balançou a cabeça, como se fosse para si mesmo, e olhou para Jill e para mim. “Isso é tudo muito maluco para fazer sentido. Um cientista-chefe de pesquisas é obrigado a trabalhar em um projeto secreto, aí algo dá errado. Bem errado. O cientista, Billy, acaba criando um vírus diabólico que transforma homens e mulheres normais em assassinos robóticos sem alma.”
“Então, o que faremos, Wesker?”
“Vamos nos reunir e seguir para o lugar onde o Bravo desapareceu.”
“Nós quem?”
“A equipe Alpha inteira.” Ele fez um movimento circular com seu dedo para indicar Jill, Barry, Richard e eu. “Todos nós, e mais a Chambers, o Frost e o Vickers. Vamos para o terraço. O piloto está esperando.”
Dez minutos depois eu estava observando o alto da antiga hospedaria da cidade. O lugar parecia imenso do helicóptero, um monte de vigas, torres, grandes janelas e portas arredondadas envoltas em visgo. Enquanto o helicóptero descia, o vento das hélices inclinava os arbustos, e um pouco depois a nave parou onde antes fora o jardim frontal da antiga mansão.
Cuidadoso como sempre, Wesker ficou na cabine enquanto as hélices ainda rodavam. O helicóptero já estava parando quando o barulho das lâminas foi de repente substituído por outro som, um choro que aumentou rapidamente para um grunhido, um grito horrível como se viesse dos portões do inferno.
Eu podia sentir o medo tomando conta do helicóptero agora; podia ver nos rostos congelados dos homens ao meu redor.
“Redfield, Valentine,” cochichou Wesker roucamente, “algum de vocês sabe o que está fazendo este som?”
“Está vindo dos zumbis, Capitão,” disse eu, meus olhos fixos nos de Jill. “Eles querem que a gente saiba que eles estão aqui.”
FIM